ô tucano
"Mesmo os tucanos, com penas e asas, bico longínquo, mesmo os tucanos são enganados pelo próprio reflexo que os assombram quando traídos pela rigidez do bico, desnucam e morrem. Com suas penas e asas, morrem, no próprio reflexo a procura de um par, um igual, uma companhia no ar." Assim nasce uma crítica, no funeral convencional de um par de asas, mas como fênix, devastadora, surge Simone de um amontoado de cinzas, ouvindo o ouvinte no hebraico, Simone Talin ouve o chamado da arte como expressão de apreciação de um mundo típico e banalizado.
Não poderia versar de outra forma se não pela arte da crítica em um suporte-papel onde, na construção de sua poética, apropria-se do fato para gerar questionamentos. No cartum ou na charge, seus traços ocupam o espaço branco-papel-outros suportes concedendo asas à imaginação, à criatividade, ao pensamento universal da estética aliada à mensagem quando, por meio destes traços, materializa com humor a dicotomia da vida, como o claro e o escuro, o presente e o passado, transpassando por previsões para o futuro. A sensibilidade de suas construções simbólicas,tanto no desenho de humor como na literatura livre, colocam a abstração do pensamento do homem/mulher ocidental nas práticas sociais e no resultado das ações e consequências provocando reações diversas no receptor de sua mensagem.
Simone Talin é uma artista etc – como bem cunhado por Ricardo Basbaum – pois questiona a natureza e a função de seu papel como artista. Ela é artista-professora, artista-educadora, artista-escritora, artista-mulher e artista-mãe. Há muito para ler e muito para aprender com Simone, seja na charge, no cartum, na caricatura, na literatura e na forma Simone de estar. Esta mulher tem um par de asas – como os tucanos – que paira sobre o horizonte além céu, no olhar apurado de sensibilidade artística e social que tem no seu ninho a segurança de continuar.
Artêmio Filho